Duplicar a vida útil de telemóveis e portáteis evitaria emissões de CO₂ equivalentes às geradas por 17.000 carros num ano

30 Dez 2024 | Sustentável

A vida útil de um telemóvel em Espanha é de três anos e meio. A de um portátil, de seis. Se fossem duplicadas, a atmosfera economizaria o impacto de 28 milhões de toneladas de dióxido de carbono: o equivalente ao que emitem 17.000 carros num ano. É o que calcula o relatório “Alargascência: benefícios ambientais de prolongar a vida útil de telemóveis e portáteis em Espanha”, elaborado pela organização ambientalista Amigos da Terra, em colaboração com o Instituto de Energia e Eficiência de Recursos da Universidade de Saragoça, e publicado no passado dia 28 de novembro.

Além da redução dos gases de efeito de estufa, o estudo sublinha que um modelo de produção baseado na alargascência — prolongar a vida dos objetos de consumo — e não na obsolescência, teria, por sua vez, um impacto positivo na poupança de energia e na redução da mineração. A cada ano de vida útil adicional a um telemóvel, o consumo energético entre 2024 e 2040 reduzir-se-ia em 1.389 GWh, o equivalente ao consumo de uma cidade como Saragoça num ano.

O relatório também propõe um cenário ideal em que não só se prolongue o funcionamento dos dispositivos novos, mas também o dos que já estão em circulação. Nesse contexto, a redução do consumo de lítio aumentaria quase 20% e a de cobalto cerca de 16%.

No entanto, o impacto ecológico seria muito maior se considerarmos todos os outros minerais necessários para a produção desses dispositivos. A placa eletrónica de um telemóvel contém quase metade dos elementos da tabela periódica. Isso torna as baterias produtos altamente poluentes, especialmente nas regiões onde os metais são extraídos. O magnésio que se pouparia se a vida útil dos telemóveis espanhóis fosse prolongada por um ano equivale ao necessário para quase 15 parques eólicos que abastecem 20.000 famílias com energia limpa.

Os autores do relatório destacam a importância de desenvolver uma mudança no modelo produtivo que permita “economizar minerais escassos e necessários para cobrir outras necessidades relacionadas com o fim dos combustíveis fósseis”. E apontam contra a obsolescência programada. Uma das ferramentas que consideram úteis para desenvolver este modelo é através da penalização, citando o exemplo francês, onde, desde 2015, se “penaliza esta prática com até dois anos de prisão e multas de 300.000” euros.